1 de abril de 2011

Café do amanhã

Vou compartilhar uma historinha (“Compartilhar” é um verbo muito popular nesse dias...), absolutamente verdadeira, vivida por este degas aqui.

Vou a ela.

Há alguns anos, minhas sobrinhas costumavam passar os dias da semana sob os cuidados da avó, minha mãe, enquanto minha irmã estava no trabalho. E o tio aqui fazia o papel de pai, em alguns instantes, claro. Quando as meninas levantavam, encontravam a mesa posta, com tudo a que tinham direito. Era sentar e comer. O titio, implicante como ele só, costumava dizer:

– Um dia, quando vocês tiverem suas próprias casas, vão levantar e a mesa não estará posta. Aí, vocês irão procurar as coisas para colocar na mesa: o pão, por exemplo. Porém, o pão não estará lá, nem em lugar nenhum, porque vocês não compraram o pão. Não compraram a manteiga, o leite, o café, o queijo, as frutas, etc. e tal.

Quando uma das minhas sobrinhas se casou e, após as férias nupciais, acordou em seu primeiro dia na casa nova, lembrou-se das minhas palavras: “a mesa não estará posta”.

Não estava.

Assim, ela foi pôr a mesa. Colocou a toalha, a louça e... o pão, a manteiga, o leite, o café, o queijo, etc. e tal estavam onde deviam estar, porque ela e meu novo sobrinho haviam feito as compras na véspera.

Meus sobrinhos compraram porque tinham grana para pagar. Tinham grana para pagar porque receberam salários. Receberam salários porque estavam trabalhando e empregados.

Hoje, acredito, de boa fé, que os músicos da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB. É como conheci. É como a identifico.) que estão desempregados, quando levantaram e puseram a mesa, tomaram o seu café da manhã. Acredito, de boa fé, que almoçaram, lancharam e jantaram, porque, apesar de desempregados, ainda tiveram grana para comprar seus suprimentos.

Ah! Que cabeça a minha! Quase ia me esquecendo: os músicos e suas famílias, claro. Que cabeça a minha! Não é que músico tem família? Eu devia saber isso de cor e salteado. Afinal, tenho família e sou músico. Não um instrumentista (Atualmente, nem daria para ser) ou um regente. Sou um compositor. E, para quem não sabia e ficou sabendo agora, afirmo: o compositor é músico! (E ainda escrevo sobre isto).

Então, acredito que o café da manhã, almoço, lanche e jantar estiveram garantidos, hoje, para os músicos da OSB e suas famílias, porque, apesar de desempregados, ainda tiveram grana para comprar seus suprimentos. De boa fé, sempre de boa fé.
Músicos ou não, todos aqueles que estão empregados, certamente recebem seu salário. Consequentemente comem todos os dias.

Os empregadores comem todos os dias. Eles são quase como todos os que estão empregados. Mas, há algumas diferenças entre empregadores e empregados. Por exemplo: a qualidade das refeições (brioches e croissants no lugar do pãozinho francês no café da manhã...), “retiradas” no lugar de salário. E, para os empregadores existem as terríveis preocupações com as ações na Bolsa de Valores; para os empregados, o terror do desemprego. Porém, essas “coisinhas” não alteram as semelhanças; os dois, empregadores e empregados comem todos os dias.

Hoje, não de boa fé porque isto não faz a menor diferença, acredito que os empregadores, ou seja, os diretores da Fundação Orquestra Sinfônica Brasileira (FOSB; não a Orquestra Sinfônica Brasileira, porque esta tem metade dos seus músicos desempregados.) e suas famílias tomaram o café da manhã, almoçaram, fizeram o seu lanchinho e jantaram, porque os empregadores comem todos os dias.

Eles são quase como todos os que estão empregados.

Eles comem todos os dias.

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