22 de dezembro de 2011

Bonsucesso x São Cristóvão

Músico em compasso de espera, quando não dorme aguardando sua deixa, pensa bobagens. Os amigos mais chegados vão me perguntar se estou tocando em algum conjunto.

Não, queridos. Minha timidez crônica aperfeiçoou-se com o tempo. Envelheceu, mas não perdeu o entusiasmo. Se virem num palco um cara tipo focinho igual ao meu, tocando um instrumento musical numa boa, regendo instrumentistas ou cantores como se soubesse o que faz, um aviso: prendam-no sem conversar. Não é o Nestor; é uma rima pobre, um impostor!

Compositor também fica em compasso de espera. Às vezes, no meio da criação, quando passa dias preso num compasso; outras, no período entressafra, onde me encontro atualmente.

Assim, enquanto não vem a deixa, fico a meditar sobre coisa alguma pra nada.

Bonsucesso x São Cristóvão
Nesta espera e sem entender do assunto (Que interessa? Quem está perdendo seu tempo lendo isso?), penso naquele “Bonsucesso e São Cristóvão”, como disse um amigo meu, do domingo passado (Os uniformes são quase idênticos. Confiram.). O tal do “Bonsucesso” espanhol, que, acho eu, perderia facilmente para a Portuguesa da Ilha do Governador de 1969 (vide os 2x1 no Real Madrid, sendo este campeão disso e daquilo etc. e tal) está sendo endeusado como se fosse “a maravilha das maravilhas”!

Coisa nenhuma.

É como disse o técnico deles: jogam como os brasileiros jogavam nos tempos heróicos da CBD, antes da criação da..., com licença, amigos,... CBF. E acrescento: em um ou dois toques, com jeito de futebol de salão (também comentário de meu amigo), chamado imbecilmente hoje de “futsal”, que como o futebol de areia, jogado na praia e chamado também imbecilmente de “beach soccer”, ambos criados aqui nestas terras; com um cara que pensa no meio-de-campo, chamado Xavi, segredo dos times brasileiros de outras eras (Didi, Gerson e outros poucos, grandes distribuidores de bolas redondinhas, enxergando o jogo todo e, com total autoridade, verdadeiros técnicos dentro do campo.), detalhe sem importância, que foi convenientemente excluído nos times do lado de cá do Atlântico, a partir do momento que, misteriosamente, se decidiu (Sabe-se lá quem decidiu! E o porquê...) não mais ter o cara de meio-de-campo, que vê e pensa; pois, jogador de futebol só deve jogar...

Criou-se ainda uma espécie de competição para se saber quem é o melhor entre o Messi e o Neymar. Tipo de competição igualmente imbecil, que se repete há anos (A ou B? C ou D? E por aí a fora!) Os “criadores” de tal disputa esquecem o fato de que o Messi se dá muito bem no “Bonsuça” espanhol, porém, não repete suas façanhas quando se trata da seleção de sua pátria natal, a Argentina.

Por quê?!

Porque nossos hermanos não têm um Xavi na seleção, vendo o jogo, pensando e mandando no campo. Na verdade, até têm. Mas, não o convocam. E ele esteve por aqui: o Conca.

O canhoto Messi é bom de bola, faz com a perna esquerda o que muitos não fazem nem usando as mãos.

O garoto Neymar é muito bom. Mas, tem que crescer. Amadurecer. É semelhante ao argentino, precisa de ser servido, receber a bola redondinha e ter gente para passar. Aí é que está o problema. Ele recebe. Tem o Ganso. Mas, na hora de passar...

E tome de tentar ir sozinho driblando marcadores, juiz, o escambau. Sozinho fica difícil. Às vezes o adversário descuida e ele vai. Como o argentino. Mas é às vezes. Se era assim com o Rei do futebol que foi inúmeras vezes (sou testemunha de várias), quanto mais com os outros, meros mortais...

O Ganso, por outro lado, tem jeito pra coisa. Vê o jogo, pensa, é habilidoso. Mas (Tem sempre esse “mas”...), há uma lei, lei não escrita, criada sabe-se lá por quem, que afirma, categoricamente: jogador de futebol não precisa pensar, tem o técnico para pensar por ele...

E o garoto, vocação nata de meio-de-campo, deu azar. Nasceu em época errada. Anda meio cabisbaixo, joga triste, falta brilho nos olhos, como observou meu amigo. Entende-se. Não pode fazer o que sabe. Se bobear nem sabe o que sabe, pois não tem referências. Não viu jogarem Didi, Gerson, Dirceu Lopes, Ademir da Guia e tantos outros.

Ele não está só. Precisa saber disso. Lá fora tem o Xavi, o Conca. Aqui, o Deco, o... (deve ter mais alguém...)...

Quem sabe um dia os times brasileiros voltem a jogar do jeito brasileiro.

O técnico do “Bonsuça” espanhol espera que... não!

E nós?

Não entendo nada de futebol. Escrevi, escrevi e a deixa não veio. Acabei falando de coisas que não são da minha área, a música. E esta já ocupa por demais o meu tempo, graças ao bom Deus!

Abre parêntese.

Assisti vários Bonsucesso e São Cristóvão em outros tempos. Eram melhores do que esse “Bonsucesso e São Cristóvão” em Tókio, no domingo. Acreditem. Jogavam do jeito brasileiro...

Fecha parêntese.

Nota: Aos torcedores do dois tradicionais clube do Rio de Janeiro, presto minhas homenagens através dos seus hinos.

1 de dezembro de 2011

Noventa anos

Hoje, 1º de dezembro, Nestor de Holanda, meu pai, faria 90 anos. Foi jornalista, escritor, teatrólogo, produtor de rádio e TV, compositor popular e publicitário. Socialista, inimigo de todo tipo de injustiça social e do famigerado regime político que dominou o país a partir de 1º de abril de 1964, foi perseguido, afastado, pouco a pouco, de diversos órgãos de comunicação onde trabalhava. As aflições causadas pelos inúmeros aborrecimentos o levaram à morte em 14 de novembro de 1970, aos 48 anos. Após seu desaparecimento, sempre de maneira covarde, uma vez que não mais o teriam pela frente, seus inimigos procuraram apagar, de todas as formas, seu nome, difamando-o cruelmente e excluindo-o de toda e qualquer publicação oficial ou privada onde ele, pelo talento e enorme produção, necessariamente, deveria estar inserido.

Durante muito tempo, sua família tentou, sem sucesso, re-editar seus trabalhos. No entanto, desde o dia 13 de novembro, seu “Telhado de Vidro” voltou a ser publicado.
Saudações aos antigos e novos telhadistas. O “Sargento Iolando” está de volta.

Confiram: http://nestordeholanda.blogspot.com/2011/11/candidatos.html