13 de dezembro de 2012

Antes tarde do que nunca!


Vale a pena clicar no link abaixo, dar uma olhada nesta lista e verificar que foi a partir do 14º presidente, Franklin Pierce, é que começou a conhecida alternância dos dois principais partidos políticos no poder; ora era o Democrata, outra vez o Republicano. Assim é a democracia norte-americana.


http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_presidentes_dos_Estados_Unidos

A democracia brasileira é diferente e recente, muito recente. Depois da eleição direta do primeiro presidente pós-golpe militar e sua renúncia, Collor de Mello, que foi seguido pelo vice Itamar Franco, houve novas eleições, com a vitória do candidato do PSDB, Fernando Henrique Cardoso sobre o candidato do PT, o Lula. Cardoso exerceu dois mandatos. No entanto, depois de ser derrotado por três vezes nas eleições para presidente, o candidato do PT, Luis Inácio Lula da Silva, venceu as eleições, derrotando seus principais oponentes que eram do PSDB. Lula governa em dois mandatos e elege a atual presidente, ou presidenta, Dilma Roussef. Como opinei acima - é apenas uma opinião, nada mais do que uma opinião -, a democracia brasileira é diferente da norte-americana e recente, muito recente. Somente agora é que começamos a alternância de partidos políticos.


Antes tarde do que nunca!...

6 de dezembro de 2012

Niemeyer

Foi-se, com Oscar Niemeyer, um grande momento do Brasil, talvez, o seu maior. Uma era que se inicia em torno da Semana de Arte Moderna de 1922 e começa a ser esmagada, aos poucos, a partir de 1º de abril de 1964, com o golpe militar e a conseqüente ditadura, e as falsas democracias que se seguiram. Foi uma época de Niemeyer, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Villa-Lobos, Portinari, Jorge Amado, Burle-Marx, Anísio Teixeira, Josué de Castro, Lucio Costa, Antenor Nascentes, Astrogildo Pereira, Nelson Rodrigues, etc., etc. São tantos que se torna completamente impossível citar aqui neste pequeno espaço, sem omitir nomes ilustres. E são muitos, ainda, os movimentos e manifestos artísticos, e os grupos compostos de artistas e intelectuais que se formaram nesse período, dando enorme impulso à arte, cultura e reflexão no país. O Brasil perde, e perde muito, com a morte de Oscar Niemeyer. E o tempo, como um leiloeiro implacável, bate o seu martelo.

11 de agosto de 2012

Medalha de prata no futebol... de novo!

Ano de 1958. A seleção brasileira, jogando futebol do modo brasileiro, sem imitações, conquista a Copa do Mundo na Suécia.

Em 1966, depois de perderem a segunda Copa no Chile, cria-se, na Inglaterra, o futebol-força para parar o talento nacional - cheio de orgulho e vaidade do tipo "a gente pode fazer 10 seleções diferentes que ganharia todas!...! Não era verdade. E a força venceu a presunção.

Vem 1970 e, com simplicidade e trabalho, o talento  brasileiro derruba a força bruta e todo tipo de táticas européias e suas cópias sul-americanas.

Em 1974, os de fora inventam o futebol-novela-carrossel e param os "de dentro", que, arrogantemente, desprezaram as experiências anteriores.

Nas Copas seguintes, a mentalidade colonialista e gananciosa nacional, movida por interesses escusos - as vendas de jogadores jovens para o exterior, por exemplo -, resolve "imitar" o modo medíocre de jogar futebol dos europeus. E os pontas - direita e esquerda, os meios-de-campo, cérebros dentro de campo, verdadeiros técnicos dos times, desaparecem dos times brasileiros, substituidos por "alas", "volantes" e outras bobagens, criados pela imaginação dos "de fora", com o objetivo de "igualar" a mediocridade de lá com a daqui, anulando qualquer possibilidade de surgirem talentos com a bola. 

Talentos lá? Não. Talentos aqui. 

Não há mais lugar para Garrincha, Julinho, Edu, Paulo Cesar etc., e, muito menos Didi, Gerson, etc. e tal. Assim, o que vemos hoje é uma seleção olímpica, base da seleção de 2014, "conquistando" medalha de prata, depois de perder pela terceira vez do México numa final.

Agora, pergunto: coisas assim acontecem somente com o futebol? Apenas, uma pergunta, meus amigos, apenas uma pergunta...

8 de junho de 2012

Dica para cantores jovens

É apenas uma dica, não mais do que uma dica. Se servir para alguém, tudo bem. Se não servir... Tudo bem também (Serviu para rimar...). Sem polêmicas. Afinal, é apenas uma dica, não mais do que uma dica...

Ai vai ela.

Dolores Duran
Os cantores jovens – e os jovens cantores – deveriam escutar – e ver vídeos, quando for possível encontrar, claro – os inúmeros cantores que os precederam, independentemente do gênero que cada um se propõe a seguir. Com as facilidades de hoje (encontra-se quase tudo na internet), é só procurar e apreciar. Apreciar para aprender. E mais: imitá-los; imitar muito, mas muito mesmo. Imitar não é erro. É uma forma de aprender. Imitar em tudo: técnica, interpretação, postura em cena, tudo, enfim, para poder desenvolver seus estilos pessoais.

A gravação de “Fim de Caso”, de Dolores Duran (bela canção, de autoria da cantora), de 1958, por exemplo, influenciou – e determinou – o estilo da extraordinária cantora popular, Leny Andrade, segundo declarações da mesma, a diversos órgãos de comunicação (Esta semana, tive a oportunidade de assistir, por duas vezes, a cantora afirmando isso em dois programas diferentes), afirmando ainda, com muito orgulho, que Dolores é o seu “ídolo”.

Leny Andrade
Ora, amigos, para reforçar a idéia, poderia acrescentar que Elis Regina, segundo suas próprias declarações, se inspirou em Ângela Maria; que Ângela se inspirou em Dalva de Oliveira; que Dalva se inspirou em... sei-lá-quem, mas, chega! Paro aqui.

Quem tem talento imita, desenvolve seu estilo e vai em frente; quem não tem, assiste quem tem e aplaude, aplaude muito, mas muito mesmo...

- & & & -

Ouçam a gravação de "Fim de Caso" citada:


E nesta gravação, Leny Andrade homenageia Dolores Duran: Leny Andrade - A Noite do Meu Bem (Dolores Duran)

21 de abril de 2012

Questão de sobrevivência

É dificílimo encontrar gravações de obras de compositores brasileiros na internet ou em qualquer “net”. Encontra-se Villa-Lobos – alguns registros, não muitos, em comparação com a quantidade de obras que ele compôs (E as gravações nem sempre têm uma boa qualidade) – e mais uns poucos. Sim, poucos – pouquíssimos! –, em relação ao número enorme de compositores que o país possui, em sua história; compositores de talento, de muito talento.

O degas aqui - brasileiro, compositor, que, atualmente, ‘tá lento, mas permanece em atividade, permanentemente, há mais de quarenta anos - tem, também, se dedicado à divulgação de obras dos colegas-compositores, independentemente das posições estéticas que cada um defenda. E nisto, dou prioridade absoluta nas minhas postagens (ou compartilhamentos), aos intérpretes brasileiros – instrumentistas, cantores, regentes, grupos vocais e instrumentais – que se dedicam exclusivamente, ou têm por hábito incluir em seu repertório, obras de autores brasileiros.

Aos demais, digo: Até um dia e... tchau!

As exceções ficam para os que nasceram e moram lá fora. Isto, quando estão bem nas fitas, claro. E gosto que me enrosco – e posto, quando fico sabendo que tocaram ou gravaram coisas nossas.

Não se trata de “nacionalismo”, “xenofobia”, bobagens e seus rótulos. É uma posição da qual não abro mão, nem posso abrir, nem para o “tchau”...

Questão de sobrevivência.

16 de abril de 2012

Bruno Kiefer

Amizades que a gente vai travando pela vida. Alguns desses amigos, sem mais nem menos, se vão – “passed way”, como dizem os do norte. E a gente não os vê mais.
Relembro um, amigo e colega-compositor, gaúcho legítimo, nascido na Alemanha – por mero acaso... Bruno Kiefer, que completaria 89 anos no último dia 9 de abril e “passed way” em 1987.

Bruno Kiefer
Esta amizade começou na minha sede de leitura, quando, sempre em busca de fontes novas, adquiri, no final dos anos 60, seus livros “História e significado das formas musicais – do moteto gótico à fuga do século XX” (Acho que em 1ª edição, sem menção da editora, São Paulo, 1968) e “Elementos da linguagem musical” (Editora Movimento, Porto Alegre, 1969).

Faltava, ainda, o “tete à tete” fraternal.

A oportunidade surgiu no começo dos anos 80, quando estive trabalhando no Projeto Memória Musica Brasileira, do Instituto Nacional de Música da FUNARTE, criado e coordenado por Edino Krieger, em 1979.

O PRO-MEMUS lançou série de discos e partituras e, neles, estavam obras do gaúcho Bruno Kiefer. O contato se deu e a fraternidade começou.
Bruno esteve várias vezes no Rio e, quase sempre, estivemos juntos.

E, a última oportunidade de ter o prazer de estar e sua companhia, foi em um almoço carinhosamente preparado por sua esposa, em Porto Alegre. Lá, churrasqueamos, papeamos muito sobre música e Música – claro – por toda uma tarde, compartilhando o chimarrão amigo.

Foi nosso último encontro.

Fiquei-lhe devendo gravação de obra sua. Estava comigo, em uma fita cassete. Demorei-me em atendê-lo. Bruno se foi, a fita sumiu, a dívida prescreveu...

Mas, não de todo. A lembrança desse amigo de dupla nacionalidade – farroupilha e alemã – permaneceu. Eternamente.

É a tal da saudade... A tal da saudade...

[Veja e ouça: Música sem incidentes (1983), para flauta e violão, de Bruno Kiefer, com Leonardo Winter (flauta) e Daniel Wolff (violão).

27 de janeiro de 2012

Ary Barroso entrevista Anatoly Novikov

Como vivia um compositor popular na extinta URSS?

A resposta está abaixo, extraída do livro DIÁLOGO BRASIL-URSS, escrito por Nestor de Holanda, meu pai, após sua viagem à União Soviética, em 1959. Foi publicado pela Editora Civilização Brasileira, com a 1ª edição em 1960. A seguir, transcrevo a nota do autor para a 2ª edição de 1962:

"Reuni perguntas de cem brasileiros, reconhecidamente anticomunistas ou indiferentes. E, na União Soviética, onde visitei oito das quinze repúblicas, e algumas dezenas de cidades, entrevistando gente nas ruas, nos bondes, lojas, escritórios, em toda a parte, obtive as respostas de pessoas cujas profissões correspondem às dos perguntadores.

Assim, eis um livro insuspeito, sobretudo elaborado com absoluta imparcialidade. Não é contra nem a favor do comunismo; é, apenas, esclarecedor. A bem da verdade, devo dizer, entretanto, que não sofri qualquer restrição, na URSS, ao elaborá-lo. Pelo contrário, recebi colaborações e aplausos. E tanto as perguntas como as respostas foram autenticadas pelos respectivos autores, estando comigo, à disposição de qualquer interessado, todos os originais.

É difícil cotejar o nível de vida do Brasil com o da União Soviética. São tão diferentes que não temos como fazer comparações. Além disso, lá, as taxas de câmbio variam conforme a natureza da operação. No comércio internacional, com um dólar se obtêm quatro rublos; no câmbio turístico, um dólar vale dez rublos. Por aí, talvez o leitor possa calcular alguns valores, mas não conseguirá aquilatar o padrão de vida no país, e, muito menos, confrontá-lo com o nosso.

Finalmente, aí está, em nova edição, este livro, que, propriamente, não é meu, pois fui, tão-só, portador de perguntas e respostas, mas cujo êxito é motivo de grande orgulho para a minha tarefa jornalística.

Nestor de Holanda"

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Ary Barroso
“Perguntas de ARY BARROSO, compositor popular, presidente de honra da Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Editores de Música, conselheiro da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, condecorado com a "Ordem Nacional do Mérito" e autor de inúmeros êxitos internacionais, tais como "Aquarela do Brasil", "Baixa do Sapateiro", "Quindins de Iaiá" "Tabuleiro da Baiana'' etc.
Respostas de ANATOLY NOVIKOV, Emérito (2) das Artes da Federação Russa, secretário da União dos Compositores da URSS, autor de grandes êxitos, tais como "Hino da Juventude Democrática", "Rússia", "Caminhos", "A Moreninha", "Vasia-Vasilioc", "O Dia do Aniversário" e outras canções, além do poema "Necessitamos da Paz", da comédia-musical "O Canhoto" e de melodias para os versos de A. Pusquim.

Considera que a música, como expressão de arte pura, tem força bastante para quebrar as amarras das convenções políticas internacionais e unir os povos, num acorde perfeito de enlevo, compreensão e altruísmo?

– Somente a música, por melhor que ela seja, não será suficiente para romper as cadeias de prevenções políticas internacionais, para transformar em realidade a amizade de todos os povos do mundo. Não obstante, ela é meio de compreensão mútua, junto com a ciência, a cultura das diferentes raças. Ocorre com freqüência que gentes de vários países se descobrem umas às outras em suas mensagens musicais. Portanto, a música de um povo pode falar muito, a outros povos, da vida, dos costumes, do caráter de uma nação inteira, e, neste sentido, contribuirá indubitavelmente, para a compreensão entre toda a Humanidade.

Que conhece da música popular brasileira? em seu sentido rítmico, é original ou adaptada? em seu sentido melódico, é alegre ou triste?

Anatoly Novikov
– Lamentavelmente, nós, os músicos russos, temos idéia muito fraca da música brasileira. Nos festivais internacionais juvenis, tive oportunidade de ouvir canções e ver danças do Brasil. Ouvi, também, alguns conjuntos brasileiros de variedade, mas a música popular já então não soava como folclore, mas como adaptações feitas por arranjadores. De qualquer maneira, fiquei com a impressão de que o cancioneiro do Brasil é muito original e rico de colorido; extraordinariamente vivo em seu ritmo, sobretudo, no bailado; profundamente emocional, o que expressa bem o espírito privilegiado do talentoso povo brasileiro. Mas estas são opiniões de um diletante. Gostaríamos de ter partituras, discos, estudos folclóricos etc. de canções populares brasileiras, a fim de as estudarmos profunda e detalhadamente.

A inspiração é matéria que se use nos momentos escolhidos ou ela vem como uma nuvem invisível, quando menos se espera?

– Já se escreveu muito sobre a inspiração. Eu, pessoalmente, não espero que ela me chegue como nuvem invisível. Recordo-me das palavras de P. I. Tchaikovsky: "Ela, a inspiração, não visita com muito gosto aos ociosos; chega mais rapidamente aos que trabalham tenaz e insistentemente na composição".

(Ouça uma canção de Anatoly Novikov no link abaixo)


Nota do editor:
(1) Número de ordem do entrevistador no livro. 
(2) Título de honra.. 

25 de janeiro de 2012

Radamés Gnattali entrevista Aram Khachaturian

Como vivia um compositor erudito na extinta URSS?

A resposta está no livro DIÁLOGO BRASIL-URSS, escrito por Nestor de Holanda, meu pai, após sua viagem à União Soviética, em 1959. Foi publicado pela Editora Civilização Brasileira, com a 1ª edição em 1960. Abaixo transcrevo a nota do autor para a 2ª edição de 1962:

"Reuni perguntas de cem brasileiros, reconhecidamente anticomunistas ou indiferentes. E, na União Soviética, onde visitei oito das quinze repúblicas, e algumas dezenas de cidades, entrevistando gente nas ruas, nos bondes, lojas, escritórios, em toda a parte, obtive as respostas de pessoas cujas profissões correspondem às dos perguntadores.

Assim, eis um livro insuspeito, sobretudo elaborado com absoluta imparcialidade. Não é contra nem a favor do comunismo; é, apenas, esclarecedor. A bem da verdade, devo dizer, entretanto, que não sofri qualquer restrição, na URSS, ao elaborá-lo. Pelo contrário, recebi colaborações e aplausos. E tanto as perguntas como as respostas foram autenticadas pelos respectivos autores, estando comigo, à disposição de qualquer interessado, todos os originais.

É difícil cotejar o nível de vida do Brasil com o da União Soviética. São tão diferentes que não temos como fazer comparações. Além disso, lá, as taxas de câmbio variam conforme a natureza da operação. No comércio internacional, com um dólar se obtêm quatro rublos; no câmbio turístico, um dólar vale dez rublos. Por aí, talvez o leitor possa calcular alguns valores, mas não conseguirá aquilatar o padrão de vida no país, e, muito menos, confrontá-lo com o nosso.

Finalmente, aí está, em nova edição, este livro, que, propriamente, não é meu, pois fui, tão-só, portador de perguntas e respostas, mas cujo êxito é motivo de grande orgulho para a minha tarefa jornalística.

Nestor de Holanda"

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Radamés Gnattali
"Perguntas de RADAMÉS GNATTALI, compositor erudito, maestro e membro da Academia Brasileira de Música.
Respostas de ARAM KHACHATURIAN, compositor erudito, Artista do Povo da URSS, professor do Conservatório de Moscou, secretário da União dos Compositores da URSS, laureado com os prêmios Lênin e Stalin e deputado ao Soviete Supremo da URSS (2).

– O compositor de música erudita pode viver, exclusivamente, do que rendem suas músicas ou precisa trabalhar em rádio ou dirigir orquestras e gravações, para poder viver?

– Claro que o compositor de músicas sérias pode viver do que percebe, sem recorrer a trabalhos suplementares. Ainda que em nosso país exista a especialização de gêneros, os diferentes gêneros de música não se contradizem. Todos gozam dos mesmos direitos. Os maiores autores do passado compunham músicas dos mais diversos estilos e nós procuramos seguir essa tradição. Permita que lembre ser essa variedade característica das obras dos soviéticos mais eminentes. Prokofiev, autor de notáveis sinfonias, escrevia, também, marchas militares, canções e músicas para filmes. Pertencem à bagagem de Dmitri Shostakovitch, não só músicas sinfônicas, mas também, canções, uma opereta e trilhas sonoras cinematográficas. Nosso jovem compositor Andrei Eshpai é autor de belos concertos: um para piano e orquestra, outro para violino e orquestra, fez, há pouco tempo, uma sinfonia, mas também produz para o cinema. Independente do gênero de composição, o importante é que as obras sejam originais, que tenham profundo sentido, que sejam perfeitas. Por outro lado, nunca perdemos a oportunidade de intervir no rádio, na imprensa ou nas salas de concertos, para falar de nossas obras, para falar do trabalho dos companheiros ou, ainda, para recitais com nossas próprias composições. Não consideramos essas atuações como fontes de recursos, mas formas de nos dirigirmos, diretamente, ao povo. Embora sejam elas muito bem pagas, não têm caráter comercial; têm caráter social, cívico. E tudo isto tanto acontece aos grandes compositores, já consagrados, como com os jovens talentosos que se iniciam.

– Há aposentadoria? amparo à família? os filhos podem estudar ou ele precisa ser um milionário, para educar os filhos?

Aram Khachaturian
– Todos os compositores, sem exceção, têm direito à aposentadoria, na velhice, tal qual todos os demais trabalhadores da União Soviética, de acordo com a lei. A pensão é estabelecida segundo a média de direitos autorais dos últimos dois anos ou de qualquer cinco anos de trabalho do aposentado (3). Ainda recebe um tanto por cento a mais por cada membro de sua família que dependa dele. Em caso de morte do compositor, a família também recebe pensão do Estado, igualmente prevista na lei. Além disso, o musicista arrecada determinada porcentagem sobre o que rendem os espetáculos em que são executadas obras suas. Depois de sua morte, esses direitos autorais passam a ser re¬cebidos por sua família, durante quinze anos (4). A Direção dos Direitos de Autor é a encarregada de zelar por isso. O compositor e sua família recebem grande ajuda do Fundo Musical, organização filiada à União dos Compositores da URSS, cujas reservas são formadas pelo próprio Estado, extraindo-as dos lucros que a música lhe dá e de uma parte dos direitos do autor (5). O orçamento do Fundo Musical é, aproximadamente, de 15 milhões de rublos ao ano. Assim, o Fundo se encarrega do seguro social dos compositores, quando eles estão temporariamente enfermos, já que a pensão por invalidez lhe é paga pelo Estado. O musicista doente recebe, na enfermidade, de acordo com o rendimento de suas obras nos seus dois últimos anos de produção. Quanto à assistência médica, é gratuita, em nosso país, para todos os cidadãos. O Fundo Musical, uma vez ao ano, proporciona aos compositores estadas nas casas de repouso ou sanatórios, pagando 70% de suas despesas, e, em caso de enfermidade, esse descanso passa a ser de graça e duas vezes ao ano. Quanto ao subsídio, o Fundo Musical pode concedê-lo até, no máximo, 5.000 rublos. Para isso, o compositor deve apresentar solicitação, a qual é estudada pela direção do Fundo Musical. Os compositores também têm direito a empréstimos para pagamento a longo prazo. Em caso de necessidade, esses empréstimos vão a 5 ou 10 mil rublos (muitos os aproveitam para construírem suas próprias casas de campo). Também há residências construídas, nos centros urbanos, pelo Fundo Musical, e, igualmente, ele organiza as férias dos filhos dos compositores, quando estes pedem, saindo isto inteiramente de graça para os pais. Copia, por sua conta, as obras musicais (salvo as que pertencem à Editora Musical do Estado). Além de tudo isso, o Fundo Musical dispõe das chamadas "casas de trabalho". São pequeninos hotéis, instalados em recantos pitorescos, sossegados. Qualquer compositor tem direito a se hospedar neles, dois meses por ano, com absoluta tranqüilidade e condições propícias para o trabalho de criação; tem pianos, outros instrumentos, todo o material indispensável para trabalhar, à sua disposição. Pode ir para essas casas, acompanhado de sua família. Ele tem quatro refeições por dia, de graça; a família, apenas, paga alimentação. Quanto aos filhos dos compositores, claro que podem estudar, porque a instrução, na União Soviética, além de obrigatória, é gratuita. Aqui, não são os milhões, os títulos ou as situações sociais que determinam se as crianças podem estudar. Os filhos dos compositores são admitidos nas Universidades da mesma maneira que os filhos dos operários ou de qualquer outro cidadão soviético. E os exames normais é que decidem se eles podem seguir carreira.

– Existe um departamento do Ministério da Cultura para selecionar autores novos de música erudita para ser editada, gravada e executada em público?

– Todas as organizações do Estado e sociais dedicam enorme atenção aos jovens compositores. Prestam a eles a mais ampla ajuda, uma vez que o país está sempre interessado em que seja revelado o maior número possível de pessoas de talento. No Ministério da Cultura, existe um departamento musical, com especialistas qualificados. Esse departamento inverte somas consideráveis na organização de concursos para compositores jovens, inclusive estudantes. Posso lembrar, por exemplo, um realizado em 1957. Nele tomaram parte dois novos surpreendentemente talentosos: Rodion Shchedrin e Herman Galynin, ambos interpretando concertos próprios, para piano. Pois bem, essas obras, já hoje editadas, são de absoluto êxito. Há, ainda, uma infinidade desses casos. Portanto, repito, nossos jovens compositores, tal qual os já consagrados, têm sempre garantida a ajuda das organizações sociais e estatais."

(Ouça uma obra de Radamés Gnattali no link abaixo)

(Ouça uma obra de Aram Khatchaturian no link abaixo)

Notas do autor e do editor:
(1) Número de ordem do entrevistador no livro (N.E.). 
(2) Khachaturian é o consagrado compositor russo, de fama internacional, que visitou o Brasil, tendo realizado concertos no Rio e em São Paulo, com êxito sem precedente.
(3) Explica-se: sendo sempre variável a arrecadação de direitos autorais de um compositor, êle pode ter tido cinco anos de sua vida artística que foram os em que maiores somas recebeu. Então, dali será estabelecida sua pensão, na aposentadoria, e, não, de acordo com sua média de arrecadação dos últimos dois anos de atividades. No caso de não se haver registrado uma fase áurea, de cinco anos, em sua vida, a pensão será na proporção dos dois últimos anos.
(4) Revelação curiosa e esclarecedora para os estudiosos do direito autoral: a de que uma obra, na URSS, cai em domínio público 15 anos depois da morte do autor.
(5) Ao receber direitos autorais, o compositor desconta pequena porcentagem, para o Fundo Musical.

23 de janeiro de 2012

Eduardo Patané entrevista Abraão Stern

Como vivia um músico na extinta URSS?

A resposta está abaixo, extraída do livro DIÁLOGO BRASIL-URSS, escrito por Nestor de Holanda, meu pai, após sua viagem à União Soviética, em 1959. Foi publicado pela Editora Civilização Brasileira, com a 1ª edição em 1960. A seguir, transcrevo a nota do autor para a 2ª edição de 1962:

"Reuni perguntas de cem brasileiros, reconhecidamente anticomunistas ou indiferentes. E, na União Soviética, onde visitei oito das quinze repúblicas, e algumas dezenas de cidades, entrevistando gente nas ruas, nos bondes, lojas, escritórios, em toda a parte, obtive as respostas de pessoas cujas profissões correspondem às dos perguntadores.

Assim, eis um livro insuspeito, sobretudo elaborado com absoluta imparcialidade. Não é contra nem a favor do comunismo; é, apenas, esclarecedor. A bem da verdade, devo dizer, entretanto, que não sofri qualquer restrição, na URSS, ao elaborá-lo. Pelo contrário, recebi colaborações e aplausos. E tanto as perguntas como as respostas foram autenticadas pelos respectivos autores, estando comigo, à disposição de qualquer interessado, todos os originais.

É difícil cotejar o nível de vida do Brasil com o da União Soviética. São tão diferentes que não temos como fazer comparações. Além disso, lá, as taxas de câmbio variam conforme a natureza da operação. No comércio internacional, com um dólar se obtêm quatro rublos; no câmbio turístico, um dólar vale dez rublos. Por aí, talvez o leitor possa calcular alguns valores, mas não conseguirá aquilatar o padrão de vida no país, e, muito menos, confrontá-lo com o nosso.

Finalmente, aí está, em nova edição, este livro, que, propriamente, não é meu, pois fui, tão-só, portador de perguntas e respostas, mas cujo êxito é motivo de grande orgulho para a minha tarefa jornalística.

Nestor de Holanda"

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"Perguntas de EDUARDO PATANÉ, violinista.
Respostas de ABRAÃO STERN, violinista do Teatro Taras Shevchenko de Ópera Nacional da Ucrânia, em Kiev.

Os músicos tocam todos os gêneros, sem especializações, desde o popular ao clássico?

– Claro. Logo no conservatório, nosso curso é completo em todos os gêneros de música. No teatro, por exemplo, tanto há concertos sinfônicos, ópera e balé, como espetáculos com músicas populares, nossas e de uma infinidade de países. É indispensável, portanto, que saibamos executá-las.

Qual a situação, financeira e social, de um músico de orquestra?

Teatro Taras Shevchenco
– Salário mínimo de 2.200 rublos. Máximo de 5.000. Em teatros de segunda categoria, os salários são de 1.500 a 3.500. Há muitos executantes queridos do grande público e bem conceituados. Há até os que, mesmo figurando numa orquestra, são atrações para as platéias, notadamente quando se anunciam números solados por eles.

Qual a média de horas de trabalho, por dia?

– Oficialmente, oito horas. Quando se trabalha em casa, estudando, sozinho, também o tempo é contado entre as oito horas diárias.

Nota do editor:
(1) Número de ordem do entrevistador no livro. 

21 de janeiro de 2012

Sérgio Napoli entrevista Constantino Láptev

Como vivia um cantor lírico na extinta URSS?

A resposta está abaixo, extraída do livro DIÁLOGO BRASIL-URSS, escrito por Nestor de Holanda, meu pai, após sua viagem à União Soviética, em 1959. Foi publicado pela Editora Civilização Brasileira, com a 1ª edição em 1960. A seguir, transcrevo a nota do autor para a 2ª edição de 1962:

"Reuni perguntas de cem brasileiros, reconhecidamente anticomunistas ou indiferentes. E, na União Soviética, onde visitei oito das quinze repúblicas, e algumas dezenas de cidades, entrevistando gente nas ruas, nos bondes, lojas, escritórios, em toda a parte, obtive as respostas de pessoas cujas profissões correspondem às dos perguntadores.

Assim, eis um livro insuspeito, sobretudo elaborado com absoluta imparcialidade. Não é contra nem a favor do comunismo; é, apenas, esclarecedor. A bem da verdade, devo dizer, entretanto, que não sofri qualquer restrição, na URSS, ao elaborá-lo. Pelo contrário, recebi colaborações e aplausos. E tanto as perguntas como as respostas foram autenticadas pelos respectivos autores, estando comigo, à disposição de qualquer interessado, todos os originais.

É difícil cotejar o nível de vida do Brasil com o da União Soviética. São tão diferentes que não temos como fazer comparações. Além disso, lá, as taxas de câmbio variam conforme a natureza da operação. No comércio internacional, com um dólar se obtêm quatro rublos; no câmbio turístico, um dólar vale dez rublos. Por aí, talvez o leitor possa calcular alguns valores, mas não conseguirá aquilatar o padrão de vida no país, e, muito menos, confrontá-lo com o nosso.

Finalmente, aí está, em nova edição, este livro, que, propriamente, não é meu, pois fui, tão-só, portador de perguntas e respostas, mas cujo êxito é motivo de grande orgulho para a minha tarefa jornalística.

Nestor de Holanda"

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Teatro Municipal do Rio de Janeiro
“Perguntas de SÉRGIO NAPOLI, cantor lírico, do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
Respostas de CONSTANTINO LÁPTEV, do Teatro Mariinski de Ópera e Balé de Leningrado (2) (3).

É grande o êxito do teatro lírico? quantas récitas de uma ópera podem ser levadas numa temporada?

– É imenso o êxito obtido, sempre, por nosso teatro lírico. Posso julgar este sucesso, facilmente, porque já trabalhei em diversos países: Alemanha, Polônia, Iugoslávia, Checoslováquia etc. Conheço vários públicos. Assim, garanto que poucas platéias têm tanto entusiasmo pela ópera, como a nossa. Em todos os lugares da União Soviética, a arte lírica está sempre em primeiro plano, na preferência popular. Aqui, em Leningrado, por exemplo, realizamos temporadas anuais de 10 meses. Encenamos, por ano, de 180 a 200 óperas. E cada peça vai à cena de 15 a 20 vezes, em média (4).

O artista pode viver, exclusivamente, do teatro lírico?

– Mas é lógico! Os salários fixos vão de 2.000 a 7.000 rublos. Damos, ainda, nossos concertos, participamos de espetáculos especiais, filmes, gravações, programas de rádio e TV etc. Há também os que ainda trabalham nos conservatórios, como professores. Enfim, vivemos especialmente para nossa arte, e, assim, vivemos muito bem. Quando o cantor lírico tem de exercer outra profissão, sua carreira artística fica sempre prejudicada.

O artista lírico é popular e querido em todas aí camadas sociais?

Teatro Mariinski de São Petersburgo
– Claro. Os tenores e barítonos principalmente Aqui, todos gostam muito de futebol, mas o canto lírico é mais querido ainda do público. Ganha para o balé, porque é mais acessível (5). O balé é mais convencional.

De que maneira o artista lírico é revelado t aproveitado?

– Primeiramente, faz o curso de 10 anos normais. Depois, 5 anos de conservatório. Os teatros realizam concursos, todos os anos (alguns os fazem, até, duas vezes por ano). Os cantores diplomados concorrem a esses certames. Se aprovados, são contratados. Os alunos do 5° ano do conservatório também podem praticar nos teatros. E, quando obtêm êxito, são aproveitados, às vezes, sem que necessitem de participar dos concursos.”

Notas do autor e do editor:
(1) Número de ordem do entrevistador no livro (N.E.). 
(2) Ambos – tanto o perguntador como o respondedor – são barítonos. Constantino Láptev tem o honroso título de "Ator do Povo da União Soviética", que é a maior condecoração que um artista pode almejar no país.
(3) Leningrado é atualmente São Petersburgo (N.E.).
(4) O cantor não soube responder, sozinho, ao número de óperas que seu teatro encena, por ano. Foi necessária a presença de uma senhora da secretaria, com um livro de registros, para fornecer os dados necessários. Vale a pena informar, ainda, que um só teatro tem vários elencos, como no caso de Leningrado. Às vezes, duas óperas são montadas, num só dia, por conjuntos diferentes: uma à tarde; outra, à noite.
(5) Revelação das mais surpreendentes, para os que julgam o "ballet" o gênero de arte mais popular, na União Soviética. Já no capítulo XVI, quando a atriz cinematográfica Irina Scóbtzeva respondeu a Eliana, tivemos a informação de que o filme "A noite do carnaval", que passou seis meses em cartaz, em todo o país, foi mais assistido do que todos os espetáculos do Bolchoi durante cem anos...

15 de janeiro de 2012

Emilinha Borba entrevista Bela Rudenco

Como vivia uma cantora popular na extinta URSS?

A resposta está abaixo, extraída do livro DIÁLOGO BRASIL-URSS, escrito por Nestor de Holanda, meu pai, após sua viagem à União Soviética, em 1959. Foi publicado pela Editora Civilização Brasileira, com a 1ª edição em 1960. A seguir, transcrevo a nota do autor para a 2ª edição de 1962:

"Reuni perguntas de cem brasileiros, reconhecidamente anticomunistas ou indiferentes. E, na União Soviética, onde visitei oito das quinze repúblicas, e algumas dezenas de cidades, entrevistando gente nas ruas, nos bondes, lojas, escritórios, em toda a parte, obtive as respostas de pessoas cujas profissões correspondem às dos perguntadores.

Assim, eis um livro insuspeito, sobretudo elaborado com absoluta imparcialidade. Não é contra nem a favor do comunismo; é, apenas, esclarecedor. A bem da verdade, devo dizer, entretanto, que não sofri qualquer restrição, na URSS, ao elaborá-lo. Pelo contrário, recebi colaborações e aplausos. E tanto as perguntas como as respostas foram autenticadas pelos respectivos autores, estando comigo, à disposição de qualquer interessado, todos os originais.

É difícil cotejar o nível de vida do Brasil com o da União Soviética. São tão diferentes que não temos como fazer comparações. Além disso, lá, as taxas de câmbio variam conforme a natureza da operação. No comércio internacional, com um dólar se obtêm quatro rublos; no câmbio turístico, um dólar vale dez rublos. Por aí, talvez o leitor possa calcular alguns valores, mas não conseguirá aquilatar o padrão de vida no país, e, muito menos, confrontá-lo com o nosso.

Finalmente, aí está, em nova edição, este livro, que, propriamente, não é meu, pois fui, tão-só, portador de perguntas e respostas, mas cujo êxito é motivo de grande orgulho para a minha tarefa jornalística.

Nestor de Holanda"

20 (1)

Emilinha Borba
"Perguntas de EMILINHA BORBA, cantora popular.
Respostas de BELA RUDENCO, do Teatro de Kiev (2).

Um êxito musical é compensador monetariamente?

– Sim. Eu, por exemplo, ganho 200 rublos por minuto, durante as gravações. Há, porém, artistas mais famosos e mais antigos, com títulos honoríficos etc., que percebem 500 rublos por minuto. A vantagem desse sistema é que a música, obtendo êxito ou não, rende sempre bem para o intérprete. Se deixamos de receber mais, pelo fato de uma gravação ser muito vendida, não recebemos menos, em compensação, quando um disco tem pouca aceitação no mercado.

Qual o salário de uma cantora popular?

– Aqui, devo dizer, antes de lhe responder, que não temos essa distinção. As cantoras de músicas clássicas, que fizeram cursos nos conservatórios, também interpretam músicas populares, tanto em discos como no rádio, na televisão, teatros, cinema etc. O salário mínimo de uma cantora, em qualquer lugar, é de 1 500 rublos. O máximo, de 7.000. E cobramos as nossas atuações em espetáculos para os quais somos convidados.

Vocês cantam versões?

Bela Rudenco
Sim. Muito e de todos os países a nosso alcance. A música desconhece fronteiras. Ela é como nosso amor por toda a Humanidade.

Há limites para as importações de músicas?

– Claro que não. Logicamente, cada cantor dá preferência às melodias de seu país, mas interpreta à vontade, composições de todo o mundo, sem que sofra, por isso, qualquer injunção oficial.

Você tem fãs-clubes? (3)

– Não. Aqui não há esse hábito, muito engraçado, por sinal. Os fãs nos aplaudem, enviam flores, pedi- in fotografias e autógrafos, e, às vezes, depois dos espetáculos, nos acompanham até em casa, pela rua, em grupos, batendo palmas.

Você gostaria de vir ao Brasil?

– Meu sorriso para o repórter é demonstração inequívoca de que sim. Gostaria imensamente."

(Ouçam gravações das duas cantoras populares, em seus países, nos links abaixo)

Notas do autor e do editor:
(1) Número de ordem do entrevistador no livro (N.E.). 
(2) Bela Rudenco é das mais populares cantoras da Ucrânia (a república de onde têm saído os melhores cantores da URSS) e vem ganhando fama, a cada dia, em todo o país. É profissional há, apenas, 5 anos. Já atuou, com êxito, em temporadas sucessivas, em várias repúblicas da União Soviética e na França, Polônia, Alemanha, Rumânia etc. Foi laureada cm dois concursos internacionais de canto: em Paris, onde venceu nada menos que 120 cantores de diferentes países, e em Moscou, por ocasião do VI Festival Mundial da Juventude, do qual participaram concorrentes de 58 nações. Bela é casada com o tenor Roberto Cochanóvisque, ao qual conheceu quando ambos ainda eram estudantes, no conservatório.
(3) A cantora soviética não sabia o que era fã-clube. O repórter explicou. Ela achou muita graça na coisa, interessando-se mesmo pelo processo usado pelos admiradores dos artistas brasileiros, tendo declarado, ao final, que os fãs-clubes eram curiosos, mas não ficava bem enaltecerem tanto um cantor popular, sem curso, quando o artista clássico sempre merece muito mais, uma vez que, no Brasil, há distinção entre as duas categorias de cantores.