5 de agosto de 2011

O músico brasileiro

O músico brasileiro tem uma capacidade nata e rara de resolver qualquer desafio no seu campo de atuação. Não importam épocas, estilos, terrenos ou dificuldades, nada lhe parece impossível. Nada lhe é impossível no campo da música.

Meu instrumento original
Devido a essa capacidade nata, o músico brasileiro forma-se aqui, formado por músicos brasileiros cuja formação foi realizada aqui.

Algumas vezes, jovens e talentosos músicos, mas ainda inexperientes, viajam, com bolsas de estudo ou não, procurando aperfeiçoar suas formações com músicos de outros sons, terras e ares. Durante este período, num tempo não medido, o talento do jovem músico grita. E ele percebe que sua estada lhe foi muito proveitosa, pois respirou outros ares, pisou outros solos, comungou com outros sons, mas sua formação básica já estava completa quando daqui saiu. E, naturalmente, começa a brilhar.

Outros não viajam para descobrir isso. Não são melhores do que aqueles. Apenas começaram a reluzir mais cedo e ficaram por aqui.

Mas outros recebem bolsas de estudo e recusam, preferindo seus sons, terra e ares. Também estes não são melhores do que os outros dois. São apenas diferentes.

O músico brasileiro vai para fora gozar férias, a convite, movido pela aventura ou por necessidade de sobrevivência. Fora essas razões, nada afasta sua luz daqui.

Mas há o enganador. Sua formação, para ele e seus pares, é sempre mais importante do que sua ação artística, sua atuação musical. Isto porque sua ação musical não existe. E mistura-se no meio dos músicos, contamina os fracos, foge das responsabilidades profissionais por absoluta incompetência, comprometendo fracos e fortes, acusando-os injustamente e, por fim, se destaca, assumindo posições de honra para os incautos. Os exemplos, lamentavelmente, também são muitos.

O músico brasileiro enfrenta inúmeras barreiras para exercer sua atividade artística. Além das anteriormente citadas, há outras, próprias a todas as categorias profissionais desta nação, categorias artísticas ou não.

Diante de tais obstáculos, ele improvisa. E improvisa bem, muito bem. Esta capacidade não é uma característica exclusiva do músico ou dos artistas em geral. É nata ao brasileiro. Talvez devido à miscigenação, elemento determinante de sua formação que enriqueceu sobremaneira o nosso povo, permitindo-lhe criar e atuar em todas as áreas da atividade humana.

O músico brasileiro, ao improvisar, às vezes exagera, mas quando não o faz, a invenção, muitas vezes, se torna parte integrante do todo, consagrando-se e consagrando o todo. Os exemplos são muitos.

Meus instrumentos de sempre
Esta capacidade nata de improvisar do brasileiro é, além de uma dádiva, sem dúvidas, seu maior defeito. Pois faz com que ele, geralmente, não goste muito de treinar, de ensaiar. É assim com quase todos desta terra, é assim com o músico.

Deste modo, com falsos argumentos que enganam somente os incautos, os enganadores aproveitam-se desta condição natural a eles negada, inventando situações favoráveis a seus propósitos escusos. Não é preciso dizer que os exemplos, além dos recentes, lamentavelmente, também são muitos.

Músico brasileiro, trigo no meio do joio, categoria profissional a que, apesar dos pesares, me orgulho de pertencer há quase cinqüenta anos.