18 de abril de 2011

Hora do almoço

Amiga minha trabalhava em uma corretora, hoje, extinta. Era uma firma de médio porte que movimentava uma graninha razoável no mercado de ações. Nesta época, os bichos não mais falavam, mas a Bolsa de Valores no Rio de Janeiro ainda vivia.

A diretora da empresa, uma senhora muito distinta que exercia sua função com uma determinação própria dos executivos de firmas de médio porte, raramente saía para almoçar. Sua secretária, igualmente distinta, mas não uma senhora, telefonava para um restaurante, dos bons, evidentemente, solicitando informações detalhadas sobre as melhores opções do cardápio. Repassava item por item à sua chefa, para que esta escolhesse o repasto, segundo o paladar do dia.

O pedido ao chegar, nem passava por perto da sala da diretoria. Ia diretamente para a copa da firma, onde uma funcionária especializada, também conhecida como copeira, se encarregava de manter aquecida a comida até o momento de servi-la.

Ao ver que a diretora havia terminado suas tarefas da manhã e sem que houvesse qualquer ordem a respeito, a secretária providenciava rapidamente a vinda do almoço à mesa de trabalho da chefia. A mesa era posta, com toalha, prato, talheres, etc., pela copeira, sob a orientação da eficiente secretária.

Tudo muito bem organizado, muito distinto e, absolutamente executivo.

A senhora diretora, ao terminar a refeição e sorrir satisfeita (acredito que este gesto era uma espécie de código), a mais que eficiente secretária providenciava para que a louça fosse retirada rapidamente. A mesa ficava pronta. E a mais que satisfeita senhora diretora voltava às atividades executivas, com o furor que lhe era peculiar.

Quase sempre, ou, como direi, sempre, sua primeira atitude era mandar a secretária ligar para um dos departamentos. Queria falar com alguém, sobre alguma coisa. Quase sempre, ou, como direi, sempre, urgente.

Neste dia quis falar com Fulana.

Fulana não estava. Era o começo da tarde, hora do almoço.

– E Beltrano? - perguntou a secretária antecipando sua chefa.

– Também foi almoçar.

– Sicrano?

– Saiu com Beltrano.

Fulana, a minha amiga citada no início da história, ao retornar, recebeu o recado. E, de acordo com a lei do “manda quem pode e obedece quem tem juízo”, prontamente se dirigiu à sala da diretoria.

Ao chegar, escutou da senhora excelentíssima diretora, estas palavras, sem distinção:
– Eu não sei por que vocês têm de sair para almoçar todos os dias!

[Em tempo: Nada sei sobre o almoço da secretária; nem sei se almoçava...]

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