18 de março de 2011

Ninguém é obrigado a gostar das músicas que escrevo

Ninguém é obrigado a gostar das músicas que escrevo. E, se por acaso, por insanidade minha, a obra for dedicada a alguém que não vai com a minha cara (um direito pelo qual lutarei a favor e não contra), o “homenageado” não é obrigado a tocá-la. Nem por, digamos assim, gratidão. Não gostou não toque. Peço somente que esses meus amigos não me venham com desculpas esfarrapadas. Se quiserem baixar o cacete em mim, fiquem à vontade. Estou acostumado. Desde os 13 anos, quando entrei nesta vida de loucuras, que levo pancada de todo lado. Mas, se tem uma coisa que detesto é invencionice, também chamada de mentira.

Teria muitas histórias para contar sobre isso. Vou recordar umazinha para encerrar o assunto.

Certa vez, já foi nesta ditadura útil – mais ou menos – do email e outros bichos, enviei para um violinista de uma orquestra estrangeira, famosíssima, uma peça minha para violino e piano. Ele demorou pouco e respondeu por email, dizendo que a peça continha diversas falhas: “no compasso tal, esta passagem não é possível de ser realizada, porque...”, “no compasso tal e qual, este efeito não funciona...”. E foi por aí a fora, apresentando mil erros meus de composição e instrumentação.

Respondi apenas: “Fulano de Tal, violinista de tal nacionalidade, estreou a peça e a tem tocado constantemente.”

E ele voltou com a seguinte desculpa: “Olhando melhor, vejo que me excedi um pouco nos meus comentários. A peça pode ser tocada...” etc., etc.. e, para variar, etc.

Nestes tempos absurdos da tentativa assassina de se implantar “testes de avaliação” nas orquestras, é preciso lembrar que de todos os músicos, é o compositor (Sim, porque o compositor é um músico!), o que mais tem sido avaliado – pela crítica, músicos instrumentistas, regentes e colegas compositores – em toda a História da Música. Não reclamo, aceito e concordo. Escolhi este caminho e neste caminho permanecerei. Escrevi e está escrito.

Rio de Janeiro, 12 de março de 2011

Nestor de Hollanda Cavalcanti

2 comentários:

  1. Estimado Nestor, à parte o trocadilho, como praxe o Sr. acertou em cheio o tom da questão. Vide o caso clássico de Berlioz, Paganini e o "Haroldo na Itália". Realmente, o compositor é o ponto focal da crítica na música. Desde a obra que "não se adequa à estética do conjunto" até a que "não atinge os requerimentos técnicos procurados", tudo é motivo de implacável escrutínio. Não é qualquer ego que é capaz de suportar incólume a mira alheia, na sanha ávida da desconstrução.A mim, tive a sorte de poder canalizar essa contínua e acérrima experiência em outras áreas onde atuo, o que me ajudou muito. Mas não há ilusão: nesse métier as reações são sempre imprevisíveis.
    Parabens pelo Blog, que descubro somente agora, mas que certamente irei fruir constantemente.
    Um abraço
    LucianoGuimaraes

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  2. Caro Luciano, obrigado. Aguardo sua visita. Abraço.

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