10 de maio de 2011

Compositor também come (1)

Eu tenho um hábito diário: necessito comer todos os dias. E não é uma vez somente. Necessito comer três vezes ao dia, pelo menos.

De manhã, preciso tomar o café da manhã. Não é o café da tarde; não é o café da noite; não é o cafezinho em pé num balcão de um bar carioca no centro da cidade. Mas, um café completo com frutas, queijo, pãozinho francês quentinho com manteiga e, se possível, algo doce. À tarde, necessito almoçar. É outro hábito. Neste rango são incluídos outros ingredientes: alguma coisa animal, alguns vegetais coloridos e minerais bem distribuídos. Ao terminar, uma sobremesa. Atualmente, dispenso o cafezinho, mas não a sobremesa. Depois, talvez, um lanchinho rápido no decorrer da tarde. E à noite, impulsionado pelo velho hábito, também como, mais do que no lanchinho da tarde. Porém, menos do que no almoço e no café da manhã.

Não sou um glutão. É apenas um hábito diário: necessito comer todos os dias.

O engraçado é que minha família tem os mesmos hábitos.

Sou um músico-compositor e, em determinadas horas do dia, sinto fome.

Todo compositor necessita comer todos os dias, independentemente se ele é um compositor de música chamada de popular ou da outra, que, sem nome fixo, é chamada de erudita, clássica ou de concerto.

Não é pelo fato de ser um músico-compositor que preciso comer todos os dias. Deixo isto bem claro. Mesmo que fosse músico-instrumentista, músico-cantor, músico-regente ou não fosse músico qualquer coisa, teria a mesma necessidade.

Fazer o quê?

Tenho a mais absoluta certeza que o amigo leitor entendeu tudo isso.

Mas, a teoria na prática é outra coisa, isto é, nem todo mundo parece entender isto que, a meu ver, deveria ser um ponto de fácil compreensão.

Deste modo, compartilho com os amigos algo que não é exatamente um segredo. Porém, tem suas particularidades.

Abro parênteses. Embora atue com pouca freqüência na música chamada popular, minha história de vida está completamente ligada à outra, sem nome fixo. Assim, o que escrito agora segue este princípio. Fecho parênteses.

Qualquer compositor já ouviu esta frase abaixo (Pelo menos, aqueles que têm mais, muito mais de trinta, como este que vos escreve...):

– Faz uma música para mim (Ou para meu grupo).

O pedido é feito sem nenhuma insinuação sobre uma possível remuneração para o trabalho. É um “faça” e estamos conversados. Alguns, às vezes, se lembram de que estão querendo que o compositor trabalhe para eles de graça e mandam este clichê como desculpa:

– Se eu pudesse, pagaria.

E vem o complemento:

– Eu (nós) não tenho (temos) nenhum apoio (O compositor tem?!...).

Cá entre nós, que ninguém nos ouça. Só você, leitor, e a torcida do Flamengo. Uma parte do cachê que o “pedinte” vai receber quando se apresentar já faria uma diferença, não?

Quando a solicitação vem de amigo, o compositor finge que não entendeu que mais uma vez vai trabalhar de graça e o atende. É pedido de é amigo. Caso parta de conhecidos apenas, a reação é completamente diferente. Ele... também atende e faz a peça!

Deste modo, as obras vão surgindo, uma a uma, e nosso herói vê aumentar seu catálogo de obras. Ele sorri, fica feliz. Feliz...

Mas, o compositor necessita comer e pagar por isto todos os dias. Como ele faz?

Não respondo como faço. Porém, como tenho feito durante os meus quarenta e tantos anos de carreira, de acordo com a minha vontade continuarei a compor, atendendo aos amigos e conhecidos, vendo aumentar meu catálogo de obras, sorrindo, feliz.

Feliz...

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