15 de maio de 2011

Compositor também come (2)

O compositor necessita comer todos os dias, independentemente do meio onde atua (na música chamada de popular ou na outra, sem um nome fixo, chamada muitas vezes de erudita, clássica ou de concerto). Assim, para suprir esta necessidade dos sempre esfomeados criadores de obras, algumas vezes, surge uma encomenda de obra com pagamento pelo trabalho.

No meio da outra, esta encomenda chama-se comissão, e, quando acontece, é sempre muito bem-vinda.

O compositor especializado em obras “clássico-erudito-concertantes”, mui alegremente, aceita o trabalho. As contas das padarias e importadoras dos hipermercados precisam ser saldadas.

Todo compositor come brioches, croissants, patê de foie gras e outras delícias, diariamente. Não sabiam? Claro que come! Todo compositor é rico. Sim, muito rico. Se não fosse rico, por que seria um compositor? Se ele, um dia, achou que tinha jeito para música por que não procurou ser um regente, um professor de harmonia, um crítico de música? Por que não procurou estudar música a sério, se dedicando, de corpo e alma, a dominar um instrumento musical sério (Não um violão, evidentemente, que é instrumento de vagabundo...), mas um violino, um cello, uma harpa, o nobre piano?

Imaginem só o que seria para um gourmet a comissão de uma sinfonia para grande orquestra, em 4 movimentos, com cerca de 40 minutos de duração! Seria coisa para quem pode!...

Achei a idéia tão interessante que vou continuar nesta “historiazinha fantasiosa”.

O papo do convite, imaginário, claro, poderia ter sido assim:

– Maestro! (Compositor, eventualmente, é chamado de “maestro” e este personagem seria um senhor já passado dos anos o que o tornaria ainda mais “maestro”.). É um desafio.

– Diga – responde o “maestro”.

– O trabalho tem de ser entregue em um mês. A verba que possuímos não é muito (Hã! Está parecendo história real. Mas, é fantasia, pura fantasia...).

– É um desafio! Será uma honra que aceite o trabalho, porque... Blá-blá-blá, etc. e tal.

O “maestro”, eficientíssimo, com menos de um mês do prazo estabelecido, termina a obra e vai receber seu pagamento, umas duas mil merrecas.

Com a grana no bolso, vai ao hipermercado fazer suas compras do mês, em sua limousine, pensando nos brioches, croissants e patês de foie gras.

No setor dos importados, encontra-se com um velho amigo que, ao vê-lo, em vez de um “meu querido!”, começa logo informando, não como fofoca, claro, mas como “amigo que é”, que determinada figura, também chamada de “celebridade”, de muita fama do “show business” internacional, recebeu 10 vezes mais merrecas para criar uma obra livre (não uma sinfonia, porque “cada macaco no seu galho”...), com duração livre, concebida sobre improvisos, sugerindo aos leigos a utilização de uma técnica chamada minimalista.

Nosso compositor “maestro”, por causa da notícia insignificante do “amigo, e amigo é pra essas coisas”, sente-se mal e vai parar no hospital.

É uma história imaginária. Nunca aconteceria de verdade. Ninguém seria tão canalha assim. Dois pesos e duas medidas? Não acredito! Em hipótese alguma! Não, não e não.

Não e fim desta história!

Vou mudar de assunto.

Esperem um momento, o telefone está tocando.

– Maestro!

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