12 de março de 2013

IMPROVISO EM MÚSICA

Transcrevo aqui um breve papo que tive com uma amiga querida, Verinha Machado, com “prelúdio” e “finale” de outro querido amigo de longa data, Marcus Veras de Faria. A coisa começou quando postei de manhã, numa rede social, o vídeo abaixo, com o clássico de Dave Brubeck, seguido do comentário que abre o papo. Foi assim:


NHC: No jazz ou em qualquer outra forma musical com desenvolvimento semelhante, os “improvisos” são sempre variações sobre um tema qualquer. É a forma tradicional tema e variações, que vem de longa data. E os “improvisos” no jazz ou em qualquer outra forma musical semelhante são sempre... estudados!

Marcus Veras de Faria: Take Five é o exemplo perfeito para improvisos ensaiados...

NHC: Todos são ensaiados, Marcus. Mas, têm de ser bem feitos. De tal maneira que pareçam, de fato, serem “improvisos”...

Verinha Machado: Bom dia, Nestor! Não sei se estamos falando da mesma coisa, não sei o que você quer dizer com “temas ensaiados”, mas os músicos que conheço e com quem trabalho são pessoas que estudam muito, treinam bastante e não poderia ser diferente.Assim sendo conhecem a maioria dos temas mais conhecidos do jazz. Se é isso que você chama “tema ensaiado”, creio que não poderia ser diferente. Mas quando vão dar uma canja, por exemplo, não sabem nem quais temas vão ser tocados… Portanto não podem tê-los estudado antes e isso é que é o barato do jazz… improvisação pura… e diferente à cada vez.

Quando os temas são conhecidos ou quando são músicos que tocam em grupo há muito tempo os mesmos temas, muita coisa já foi experimentada, mas a cada vez os caminhos melódicos ou harmônicos escolhidos para o improviso são diferentes ( ao menos deveriam ser…). Mas é verdade que alguns músicos estudam seus improvisos com antecedência chegando a fazer os mesmos “improvisos” em todos os shows. Neste caso não se poderia mais falar em improviso, mas apenas em SOLO, que pode até mesmo ser escrito…

Num tema em 5/4 (como nos em 7/4),convenhamos que o improviso não seria muito “ natural”, necessitando de uma certa” intimidade prévia” com o mesmo. Assim, numa gravação, por exemplo, podemos ter certeza que o tema foi bem ensaiado, sim, mas se o solo não for escrito e sair espontaneamente, seria sempre um improviso… Todas as gravações às quais eu assisti, por exemplo, os solos eram verdadeiros improvisos, a tal ponto que, quando se faziam varias “tomadas”, nenhuma era igual à outra… Diferentemente da música clássica, onde a maioria dos solos são escritos…Estou errada ? Abraços musicais!!!

NHC: Verinha, você não está errada quando se fala do “improviso” por inteiro. Todo bom músico será capaz de fazer diversos e diferentes improvisos, uns dos outros, nas construções melódicas e também nas seqüências harmônicas, contanto que não “derrubem” os demais integrantes do grupo que estão tocando. É o que acontece quando os músicos não se conhecem bem e há uns “desencontros”, geralmente harmônicos e formais, que quem escuta não percebe de prima, quando os “caras” são bons. Porém, um músico que está na audiência, sempre percebe... O “ensaio” que falei não é este. Ensaios antes, existem, claro. A forma do todo tem de estar clara para todos. Senão, a percussão e o contrabaixo (Falo de um grupo básico de alguns instrumentos melódicos, como sax, clarineta, trompete, trombone, etc., e harmônicos, como teclados e guitarras em função harmônica, baixo com função básica de marcação, mesmo com variações, e bateria) vão ficar “caçando” o resto pra tentar se acertar...

Isto pode ser observado quando o baixista fica olhando para a mão esquerda do pianista e o baterista fica repetindo um modelo básico de toque, esperando uma mudança para variação. Nas músicas com compassos não convencionais, como 5/4 e 7/4, como você citou (Take Five e Missão Impossível, que estão em 5/4.), ou em compassos alternados (difícil para improvisos) todos têm de estar muito bem acertadinhos para “a casa não cair”; cair, não, despencar...

A forma da obra, por inteiro, tem de estar clara para todos.

Esta “forma” é, basicamente, nada mais, nada menos, do que o tema com variações ou doubles, da música chamada de “clássica”, “erudita” ou “de concerto”. O jazz é isto, sempre. Os precursores de tudo que estamos falando, músicos antigos, mui antigos, ficavam num órgão, cravo, etc., “improvisando” sobre temas dados pelos nobres que os patrocinavam; os seus patrões, em outras palavras... Mas, não é sobre a forma do todo que falei. É a respeito das células melódicas, construídas sobre escalas ou fragmentos de escalas nos acordes, em cada acorde (Escalas tonais, modais, hexatônicas, pentatônicas, etc.) nas melodias e os encadeamentos destes acordes. Os improvisos seguem modelos previamente estudados, individualmente. As saídas para cada acorde encadeado com outro acorde são “preparadas”, “estudadas”, “ensaiadas” por cada um, quando desenvolvem seus estilos pessoais. Tudo isso, claro, antes dos músicos se juntarem uns aos outros, para se conhecerem (E para ver se dão certo entre si). E todos, seguem diversos modelos, inclusive modelos “clássicos de improviso” de jazz ou outros modelos. Foi disso que falei, amiga. Os “improvisos” não são assim tão “espontâneos”, são sempre, sempre mesmo, estudados.

Marcus Veras de Faria: Nestor e Verinha, este papo de vocês dois enche minh’alma de uma profunda e verdadeira alegria. Obrigado!!!

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Obrigado a vocês, meus queridos amigos. Aliás, Verinha e Marcus, estava pensando em escrever no meu blog sobre "improviso" e, por pura preguiça (Ah, Macunaima!...), não fiz. Alguns amigos haviam pedido e o degas aqui... nada. Com a “provocação” de vocês, vou dizer assim, o texto saiu.

Beijos musicais pros dois (O que é um "beijo musical"? Improviso, claro...).

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