24 de maio de 2011

Ex-Beatle? Let it be...

Depois de ter feito a segunda das duas apresentações programadas para o estádio chamado de Engenhão, porque está localizado no bairro do Engenho de Dentro, na zona norte do Rio de Janeiro (Com Engenhão evitou-se um Engenho de Dentrão, que seria muito estranho. Pois, tudo quanto é estádio de futebol tem o nome no aumentativo. O Maracanã se fosse construído agora, seria Maracanão...), viajou para novas aventuras musicais, Sir Paul McCartney, a quem a imprensa escrita, falada, televisada e “internetezada”, insiste em chamar de ex-Beatle.

Pergunto: como assim, cara pálida?

O Beatle Paul McCartney feliz ao compor Let it be
O único ex-Beatle conhecido é o baterista Pete Best, fato devidamente divulgado, impresso, falado, televisionado (e também televisado...), embalado e documentado pelos compêndios de estética musical e que, segundo se conta em “boca de Matilde”, foi deletado pelos colegas por sugestão mais que obrigatória, segundo “dona Matilde”, do futuro quinto Beatle, Sir George Martin, para dar lugar ao narigudo Sir Ringo Starr, também baterista, mas um sofrível cantor.

O conjunto permaneceu com os três elementos já citados, mais Sir George Harrison e o Sir idolatrado John Lennon, por todo o tempo que durou. A sua forma de existir foi a de um quarteto de cinco, fixos. Estranho, mas são The Beatles. Viraram lenda.

Tem gente que não acredita em lendas. Meu pai, um dos incrédulos em plena “beatlemania”, tinha um amigo que afirmou, categoricamente, que os assistiu no Olympia, em Paris. Foi por volta de 1964 ou 1965. Nesta época, eu, em plena adolescência, babei. Hoje, sessentão, permaneço babando...

O Beatle John Lennon assinou Let it Be.
Amigos, estamos no Brasil; país tropical, abençoado por Deus, aqui a coisa é assim. Uma vez babão sempre babão. Mas, também temos nossos ídolos, as nossas lendas. Quando são conjuntos vocais, instrumentais, elas se formam e se desenvolvem de modo original. Em alta rotatividade. Os nossos “The Beatles” não têm um só nome. São lendas que possuem diversos nomes e formações. O “entra e sai e volta e sai” de integrantes é uma coisa mais do que normal nas nossas lendas. Por causa disso, não tem um “Pete Best”, não tem um “ex”. Todos são e serão, eternamente.

Isto fica mais do que provado nos encontros do tipo “vinte anos depois”. São beijos, abraços, carinhos, lembranças. As antigas brigas ficam para trás, esquecidas, eterna e ternamente. Claro que há exceções, porém, esta é a regra geral.

No entanto, para a imprensa escrita, falada, televisada e “internetezada”, a mídia, quem não está mais, é um “ex-”.

Dito isto, amigos, agora peço que respondam de de prima: “Seu” McCartney, depois de velejar na Baía de Guanabara e andar de bicicleta no Aterro da Glória, entra no palco, passa do ukelelê ao piano, dança, pula e se utiliza livremente da inconfundível voz, brincando que nem gente grande, com aquele repertório, aquele show, aquele som de sempre, aquele público brasileiro dos quatro cantos do planeta, conforme se viu alguns meses atrás em São Paulo e agora se vê no Rio, os espaços dos shows abarrotados de gente nascida muito antes e vários anos depois de 1970, quando o grupo “fingiu” que acabou, enganando apenas os incautos, em babação permanente, antes e depois, apesar do que diz a mídia, é um ex-Beatle?

Ex-Beatle, cara pálida?!

Let it be...

[O som abaixo é uma homenagem deste "babão" aos caras.]

Yesterday (Lennon & McCartney)
Arranjo deste que vos escreve, com a Garganta Profunda, ao vivo no Jazzmania, Ipanema, Rio de Janeiro, no verão de 1987 (Chamon e Luiz Guilherme de Beaurepaire, solistas; Marcos Leite, regente; Marco Lyrio, guitarra; Jorge Sá Martins, baixo; Marcelo Marques, bateria).

15 de maio de 2011

Compositor também come (2)

O compositor necessita comer todos os dias, independentemente do meio onde atua (na música chamada de popular ou na outra, sem um nome fixo, chamada muitas vezes de erudita, clássica ou de concerto). Assim, para suprir esta necessidade dos sempre esfomeados criadores de obras, algumas vezes, surge uma encomenda de obra com pagamento pelo trabalho.

No meio da outra, esta encomenda chama-se comissão, e, quando acontece, é sempre muito bem-vinda.

O compositor especializado em obras “clássico-erudito-concertantes”, mui alegremente, aceita o trabalho. As contas das padarias e importadoras dos hipermercados precisam ser saldadas.

Todo compositor come brioches, croissants, patê de foie gras e outras delícias, diariamente. Não sabiam? Claro que come! Todo compositor é rico. Sim, muito rico. Se não fosse rico, por que seria um compositor? Se ele, um dia, achou que tinha jeito para música por que não procurou ser um regente, um professor de harmonia, um crítico de música? Por que não procurou estudar música a sério, se dedicando, de corpo e alma, a dominar um instrumento musical sério (Não um violão, evidentemente, que é instrumento de vagabundo...), mas um violino, um cello, uma harpa, o nobre piano?

Imaginem só o que seria para um gourmet a comissão de uma sinfonia para grande orquestra, em 4 movimentos, com cerca de 40 minutos de duração! Seria coisa para quem pode!...

Achei a idéia tão interessante que vou continuar nesta “historiazinha fantasiosa”.

O papo do convite, imaginário, claro, poderia ter sido assim:

– Maestro! (Compositor, eventualmente, é chamado de “maestro” e este personagem seria um senhor já passado dos anos o que o tornaria ainda mais “maestro”.). É um desafio.

– Diga – responde o “maestro”.

– O trabalho tem de ser entregue em um mês. A verba que possuímos não é muito (Hã! Está parecendo história real. Mas, é fantasia, pura fantasia...).

– É um desafio! Será uma honra que aceite o trabalho, porque... Blá-blá-blá, etc. e tal.

O “maestro”, eficientíssimo, com menos de um mês do prazo estabelecido, termina a obra e vai receber seu pagamento, umas duas mil merrecas.

Com a grana no bolso, vai ao hipermercado fazer suas compras do mês, em sua limousine, pensando nos brioches, croissants e patês de foie gras.

No setor dos importados, encontra-se com um velho amigo que, ao vê-lo, em vez de um “meu querido!”, começa logo informando, não como fofoca, claro, mas como “amigo que é”, que determinada figura, também chamada de “celebridade”, de muita fama do “show business” internacional, recebeu 10 vezes mais merrecas para criar uma obra livre (não uma sinfonia, porque “cada macaco no seu galho”...), com duração livre, concebida sobre improvisos, sugerindo aos leigos a utilização de uma técnica chamada minimalista.

Nosso compositor “maestro”, por causa da notícia insignificante do “amigo, e amigo é pra essas coisas”, sente-se mal e vai parar no hospital.

É uma história imaginária. Nunca aconteceria de verdade. Ninguém seria tão canalha assim. Dois pesos e duas medidas? Não acredito! Em hipótese alguma! Não, não e não.

Não e fim desta história!

Vou mudar de assunto.

Esperem um momento, o telefone está tocando.

– Maestro!

10 de maio de 2011

Compositor também come (1)

Eu tenho um hábito diário: necessito comer todos os dias. E não é uma vez somente. Necessito comer três vezes ao dia, pelo menos.

De manhã, preciso tomar o café da manhã. Não é o café da tarde; não é o café da noite; não é o cafezinho em pé num balcão de um bar carioca no centro da cidade. Mas, um café completo com frutas, queijo, pãozinho francês quentinho com manteiga e, se possível, algo doce. À tarde, necessito almoçar. É outro hábito. Neste rango são incluídos outros ingredientes: alguma coisa animal, alguns vegetais coloridos e minerais bem distribuídos. Ao terminar, uma sobremesa. Atualmente, dispenso o cafezinho, mas não a sobremesa. Depois, talvez, um lanchinho rápido no decorrer da tarde. E à noite, impulsionado pelo velho hábito, também como, mais do que no lanchinho da tarde. Porém, menos do que no almoço e no café da manhã.

Não sou um glutão. É apenas um hábito diário: necessito comer todos os dias.

O engraçado é que minha família tem os mesmos hábitos.

Sou um músico-compositor e, em determinadas horas do dia, sinto fome.

Todo compositor necessita comer todos os dias, independentemente se ele é um compositor de música chamada de popular ou da outra, que, sem nome fixo, é chamada de erudita, clássica ou de concerto.

Não é pelo fato de ser um músico-compositor que preciso comer todos os dias. Deixo isto bem claro. Mesmo que fosse músico-instrumentista, músico-cantor, músico-regente ou não fosse músico qualquer coisa, teria a mesma necessidade.

Fazer o quê?

Tenho a mais absoluta certeza que o amigo leitor entendeu tudo isso.

Mas, a teoria na prática é outra coisa, isto é, nem todo mundo parece entender isto que, a meu ver, deveria ser um ponto de fácil compreensão.

Deste modo, compartilho com os amigos algo que não é exatamente um segredo. Porém, tem suas particularidades.

Abro parênteses. Embora atue com pouca freqüência na música chamada popular, minha história de vida está completamente ligada à outra, sem nome fixo. Assim, o que escrito agora segue este princípio. Fecho parênteses.

Qualquer compositor já ouviu esta frase abaixo (Pelo menos, aqueles que têm mais, muito mais de trinta, como este que vos escreve...):

– Faz uma música para mim (Ou para meu grupo).

O pedido é feito sem nenhuma insinuação sobre uma possível remuneração para o trabalho. É um “faça” e estamos conversados. Alguns, às vezes, se lembram de que estão querendo que o compositor trabalhe para eles de graça e mandam este clichê como desculpa:

– Se eu pudesse, pagaria.

E vem o complemento:

– Eu (nós) não tenho (temos) nenhum apoio (O compositor tem?!...).

Cá entre nós, que ninguém nos ouça. Só você, leitor, e a torcida do Flamengo. Uma parte do cachê que o “pedinte” vai receber quando se apresentar já faria uma diferença, não?

Quando a solicitação vem de amigo, o compositor finge que não entendeu que mais uma vez vai trabalhar de graça e o atende. É pedido de é amigo. Caso parta de conhecidos apenas, a reação é completamente diferente. Ele... também atende e faz a peça!

Deste modo, as obras vão surgindo, uma a uma, e nosso herói vê aumentar seu catálogo de obras. Ele sorri, fica feliz. Feliz...

Mas, o compositor necessita comer e pagar por isto todos os dias. Como ele faz?

Não respondo como faço. Porém, como tenho feito durante os meus quarenta e tantos anos de carreira, de acordo com a minha vontade continuarei a compor, atendendo aos amigos e conhecidos, vendo aumentar meu catálogo de obras, sorrindo, feliz.

Feliz...

9 de maio de 2011

Eu não sei escrever

Eu não sei escrever. Não sei escrever textos de qualquer espécie. Não sei escrever poesias. Não sei escrever contos. Não sei escrever romances. Procurem livros meus de poesias, de contos, um romance, unzinho. Não encontraram? Procurem nos sebos, vejam na internet. Se acharem, me avisem. É um impostor. Liguem para o disque-denúncia, urgente!

Também não sei escrever crônicas. Meu pai sabia. Era um craque no assunto. Manejava as palavras com extrema facilidade. Era o cara...

Por outro lado, apesar de não saber escrever, escrevo. Se o leitor chegou até aqui é porque está lendo o que estou escrevendo. E, mesmo não sendo o velho, consegui trazê-lo até aqui, amigo leitor, sem dizer coisa com coisa...

Habilidade ou enrolação?

Eu não sei escrever música. Sim, é aqui que a coisa com coisa pega.
Uma confissão? Não, não é uma confissão. É uma acusação que tenho escutado, indiretamente, há anos:

– Ele não sabe escrever.

Isto nunca foi dito na minha cara. Não sei por que. Sou um homem de paz. Embora filho de um nordestino invocado, neto de um operário caçador de ladrões com barra de ferro na mão e bisneto de um calabrês, cheio de histórias estranhas – por que não dizer? –, violentas (Três personagens cujas aventuras ficariam bem em vários livros), sou um homem de paz.

Sempre aparece alguém, “mui amigo”, que vem me dizer que outro alguém, “mui mais amigo”, disse para outro alguém, “muitíssimo mais amigo”, a frasezinha agradável e incentivadora:

– Ele não sabe escrever.

É esta ou uma variante, também bastante comum:

– Ele não sabe nada.

É sempre por trás, nunca na cara, de forma covarde e cruel.

Há poucos dias, um músico amigo de longa data, virtuose no seu instrumento, professor responsável pela formação de figuras de enorme expressão neste instrumento, me contou uma deliciosa história passada com ele.

Era um ensaio de orquestra. A obra, um arranjo de uma peça de Waldemar Henrique para canto, sopros e cordas, feito por um cara de nome no meio.

Muito bem.

Ao ver a sua parte, disse meu amigo, dirigindo-se aos colegas, também feras, figuras históricas, nos seus instrumentos:

– Este arranjo é fraco.

E concluiu:

– Vejam: está cheio de semibreves...

O ensaio começa e a “droga do arranjo” soa que é uma beleza!

Meu amigo se rende à evidência inquestionável:

– Eu estava errado. Não tinha entendido o que queria o arranjador quando vi a minha parte. Mas, quando ouvi o resultado final é que compreendi.

Os personagens desta história, ainda não citados, são: a Orquestra de Câmara de Blumenau, regência de Norton Morozowicz. Dentre os colegas estavam Noel Devos, fagote e Luiz Carlos Justi, oboé. Não sei dizer quem estava na flauta e a cantora. Mas, meu amigo é José Botelho, clarineta, cujas histórias dariam vários livros.

O arranjador?

Guerra-Peixe. Meu professor de composição entre 1967 e 1973.

Se não aprendi nada com ele, podem dizer à vontade:

– Ele não sabe escrever.

8 de maio de 2011

Novo programa TV Cultura

Hoje, dia 8 de maio, domingo, dia das mães, compartilho com os amigos o email que recebi ontem, com o título acima. Este email, um “span”, como todos os que recebo sem ser consultado, trouxe este teor:

"Nova temporada do programa da TV Cultura abre com a Orquestra do Concertgebouw de Amsterdam, neste sábado (7/5)

Clássicos: Temporada de 2011 (*)
Programação parcial – maio a julho

MAIO

Sábado, dia 7/5, às 16h
Orquestra do Concertgebouw de Amsterdam
Mariss Jansons, regente
Programa: Gustav Mahler / Sinfonia nr 2 “Ressurreição”

Domingo, dia 8/5, às 16h
O padre vermelho - documentário sobre A. Vivaldi
Produção ORF

Sábado, dia 14/5, às 16h
Camerata L’Arte Del Mondo
Programa: Divertimentos e Concertos de W.A. Mozart

Domingo, dia 15/5, às 16h
Tchaikovsky: a Sinfonia Patética – documentário
Produção ARTE

Sábado, dia 21/5, às 16h
Orquestra do Iluminismo (Orchestra of the Age of Enlightenment)
Vladimir Jurowski, regente
Programa: L. van Beethoven: Sinfonias nºs 4 e 7 e Abertura Coriolano

Domingo, dia 22/5, às 16h
Bolero, uma paixão - documentário sobre a obra de M. Ravel
Produção ARTE

Sábado, dia 28/5, às 16h
Osesp - Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Richard Armstrong, regente
Stephen Hough, solista
Programa: Obras de F. Liszt e R. Wagner

Domingo, dia 29/5, às 16h
Orquestra Filarmônica de Rotterdam
Valery Gergiev, regente
Programa: M. Mussorgsky / M. Ravel: Quadros de uma exposição
M. Ravel: Alborada Del Gracioso e La Valse

JUNHO

Sábado, dia 4/6, às 16h
Reger não me cansa - documentário sobre a atividade do regente Valery Gergiev frente à Orquestra Filarmônica de Rotterdam

Domingo, dia 5/6, às 16h
O sistema - documentário sobre o ensino de música na Venezuela
Produção EuroArts

Sábado, dia 11/6, às 16h
Orquestra Simon Bolivar
Claudio Abbado, regente
Anna Prohaska, solista
Programa: S. Prokofiev / Suite Scitia op. 20 - A. Berg / Suite de ‘Lulu’
P.I. Tchaikovsky / Sinfonia 6

Domingo, dia 12/6, às 16h
Darius Milhaud e sua música: da Provença para o mundo -documentário sobre o compositor francês
Produção ARTE

Sábado, dia18/6, às 16h
Osesp - Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Osmo Vanska, regente
Jaako Kuusisto, solista
Programa: J. Sibelius, E. Rautavaara e Piotr I. Tchaikovsky

Domingo, dia 19/6, às 16h
Hector Berlioz: Sinfonia Fantástica - documentário realizado pelo Mo. Michael Tilson Thomas e Orquestra Sinfônica de San Francisco sobre a obra do compositor francês
Produção APT

Sábado, dia 25/6, às 16h
24 prelúdios para a fuga - documentário sobre o compositor Arvo Pärt
Produção EUROARTS

Domingo, dia 26/6, às 16h
Orquestra Sinfônica de San Francisco
Michael Tilson Thomas, regente
Programa: Hector Berlioz: Sinfonia Fantástica

(*) esta programação está sujeita a alterações"

Fora sete documentários, um sobre A. Vivaldi, no dia 8/5; outro sobre a Sinfonia Patética, de Tchaikovsky, no dia 15/5; mais outro sobre a obra de Ravel, no dia 22/5; mais um outro sobre o regente Valery Gergiev, no dia 4/6; o quinto sobre o ensino de música na Venezuela, no dia 5/6; o sexto sobre Darius Milhaud, no dia 12/6; e o último sobre o compositor estoniano Arvo Pärt (Nascido em Paide, 1935), no dia 25/6, obras dos seguintes compositores estão programados:

Ludwig van Beethoven, Alban Berg, Hector Berlioz (2 vezes), Franz Liszt, Gustav Mahler, Darius Milhaud, Wolfgang Amadeus Mozart, Modeste Mussorgsky / Maurice Ravel, Sergei Sergeyevich Prokofiev, Einojuhani Rautavaara (Helsinki, Finlândia, 1928), Maurice Ravel (além de um documentário, 2 vezes, sendo uma com Mussorgsky), Jean Sibelius, Pyotr Ilyich Tchaikovsky (além de um documentário, 2 vezes) e Richard Wagner.

A Osesp - Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, nesta programação, se apresenta com obras de Liszt e Wagner, no dia 28/5, e Sibelius, Rautavaara e Tchaikovsky, no dia 18/6.

Onde estão os compositores brasileiros?!

4 de maio de 2011

Quanto tempo demora?

Durante muitos anos dei aulas de violão, em minha residência ou em domicílio (Detesto “em domicílio”). A partir de certo tempo, passei a lecionar no Conservatório Brasileiro de Música, seção Tijuca, e na Escola de Música Villa-Lobos. Isto, juntamente com as aulas particulares.

Era assim que sobrevivia. Assim sustentava meus estudos de composição. Não as aulas com Guerra-Peixe, porque estas eram gratuitas, mas, para ter os livros e partituras, em sua maioria importados, discos LPs, alguns também importados, e material para a escrita musical (papéis com 12 ou mais pentagramas, incluindo vegetal para matrizes, mais canetas, lapizeiras, etc.). Para estudar, precisava dar muitas aulas.

Meu interesse pelo violão começou quando ouvi pela primeira vez gravações de Dilermando Reis, Luiz Bonfá, Baden Powell “and The Beatles, of course.” Movido por esse interesse diversificado, tive aulas com Yvone Rebello, Elpídio Pereira de Faria, Pereira Filho e Jodacil Damasceno, sendo que este último me apresentou a Andres Segovia e companhia, abrindo meus ouvidos e mente para o universo do instrumento.

Dava aulas por música e por cifra, ou seja, “de oitiva”, como diziam alguns. Não era minha a escolha. Apresentava as opções, suas vantagens, dificuldades e limitações. Tinha a minha preferência, por música, claro. Mas não a impunha. Tudo dependia do aluno. Como precisava sobreviver, não discutia e fazia a vontade do freguês.

Nas aulas em domicílio, carregava comigo meu instrumento e algum suporte; dentre estes, um carimbo com cinco trastes do braço do violão, para os acordes e suas cifras, junto com um caderno com letras de músicas cifradas previamente.

Quase sempre, o aluno queria tocar uma música fora do esquema. Então, comprava umas revistas com letras de músicas de sucesso (nem sei se ainda existem!), com cifras geralmente erradas, tinha de aprender a música para poder ensinar. Era dose...

Para os que levavam a coisa mais a sério, tinha um método próprio, que, naturalmente, dependia da vontade do aluno. Ensinava-os a ler, utilizando o violão, e compunha pequenas peças à guisa de estudos. Ainda, atendendo ao interesse individual, minhas aulas, muitas vezes, invadiam os terrenos da harmonia, morfologia, acústica, estética. Isto ocorreu, principalmente, no tempo em que estive na Villa-Lobos, porque alguns alunos costumavam trazer suas dúvidas para mim e a gente acabava esquecendo por completo o astro principal...

Foram muitos alunos. Alguns entraram firme pela música a dentro, se desenvolveram no violão ou até em outros instrumentos, e vários se tornaram compositores.

Apesar de ser um tempo bastante difícil para mim, são boas as lembranças. E também algumas bastante desagradáveis.

Era bastante comum o aluno faltar ou não estar em casa, exatamente no dia do pagamento das aulas. Muitos foram os calotes. Um deles, oficial, foi o da Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro que não me pagou o último período de aulas na Escola de Música Villa-Lobos. Ficaram me enrolando, enrolando e eu, agora com emprego fixo na Funarte, com os horários completamente tomados, deixei para lá e a coisa morreu. Foi em Cr$ 20.000,00 (vinte mil cruzeiros), uma grana boa na época (Falo de 1979. Hoje não faço a menor idéia de quanto seria), que fizeram falta no orçamento doméstico.

A maioria dos alunos, com raras exceções, tinha duas frases que repetiam, ad nauseam, em qualquer domicílio, meu, dele ou escola:

– Professor, esta semana não deu para estudar, porque... (O cachorro fugiu. Tive provas. Não deu. Não me deixaram...).

Esta era a mais constante. Porém, a minha favorita era uma outra, uma pergunta, formulada uma única vez na primeira aula, que trazia à minha mente, rapidamente, as dezenas de horas de estudo gastas com escalas, Sor, arpejos, Villa-Lobos, ligados, Tarrega, trêmulos, Ponce, mordentes, Brower etc., etc., mais etc. e tal:

– Quanto tempo demora para aprender violão, professor?

1 de maio de 2011

Aos músicos da verdadeira OSB

Cumprimento e parabenizo os músicos da verdadeira Orquestra Sinfônica Brasileira pelo memorável concerto realizado ontem, sábado, dia 30 de abril de 2011, no Salão Leopoldo Miguez, da Escola de Música da UFRJ.

Cumprimento todos os músicos que participaram do concerto, integrantes ou não da verdadeira OSB, e todos aqueles que não puderam participar do evento por motivos de força maior.

Sou um destes, infelizmente, minha saúde, mais uma vez, não permitiu que estivesse presente para juntar-me a enorme platéia presente, para aplaudir e sentir toda a emoção que este concerto histórico proporcionou.

Estou acompanhando pela internet as notícias que não param de chegar e fico feliz. É como se estivesse lá.

E nesta sensação, embora um pouco atrasado, emocionado, grito:

Bravo!!!